O Imperador Dom Pedro II esteve na Boca da Barra de Pirambu em 16 de janeiro de 1860, almoçando no povoado Porto Grande (atualmente em ruínas) e ando de galeota em frente ao local onde atualmente se encontra o povoado Canal de São Sebastião
Há na Província de Sergipe um Vale de excessiva fertilidade, a que está ligada a origem da riqueza futura da Província. São as ubérrimas planícies do Japaratuba. Abrir a navegação desde este vale até a barra do Cotinguiba é um serviço de espantoso alcance para esta Província. É esta a obra que tem sido empreendida, e continuada por duas istrações, que tem feito grandes serviços à Província de Sergipe. Foi a istração do finado Dr. João Dabnei de Avelar Brotero, atual do Exm. Sr. Dr. Manuel da Cunha Galvão[1].
Temos diante dos olhos a planta desta obra utilíssima, sob o titulo –“Projeto de um canal de navegação entre o Rio Japaratuba, e o Rio Pomonga, estudo sob a direção do Exm. Sr. Dr. Manuel da Cunha Galvão, Presidente da Província, pelo Engenheiro Civil Euzébio Stevaux”.[2]
É um precioso trabalho este.
Aquela obra importantíssima não podia deixar de merecer a atenção de S. M. o Imperador durante sua estada em Sergipe. Zeloso como é S. M. por tudo que diz respeito aos melhoramentos do País, procura sempre a ocasião de por si mesmo estuda-los, examinando minuciosamente o que a eles é concernente.
No dia 16 de Janeiro, apesar de ter chegado de Laranjeiras a 1 hora da madrugada, à s 5 horas da manhã estava S. M. de pé para ir visitar o canal do Pomonga e Japaratuba.
Às 6 horas da manhã saiu o Imperador do Paço, acompanhado de toda sua comitiva, menos o Sr. Vereador Pedreira, e o Sr. Mordomo Melo, que ficaram no Paço ao serviço de S. M. a Imperatriz, e o Sr. Cônego Melo, que ficou ao lado do Sr. Dionísio Feijó, que se achava muito doente. Além da comitiva, acompanham a S. M. o Sr. Presidente da Província, o Sr. Chefe de Policia, e muitos outros Cavalheiros, e entre os quais os dois Engenheiros ao serviço da Província. Às 6 horas da manhã embarca para a barra dos coqueiros, donde tinha de ir por terra examinar os lugares por onde aria o canal.
O embarque no Aracajú, e o desembarque na barra dos Coqueiros foi acompanhado das cerimônias do estilo. Da barra dos Coqueiros segue S. M. para o Porto-grande, lugar que fica à margem do Japaratuba. Daí vai até a barra do Japaratuba, onde chegou as 9 horas da manhã. Examinou minuciosamente este lugar, fazendo algumas perguntas sobre a profundidade do rio neste lugar, e o embaraços que existem na saída da barra. Dali voltou para o Porto-grande, onde almoçou em casa do Sr. Góes. Neste lugar ouviu S. M. os pobres, e as pessoas que o procuravam para ter a honra de beijar-lhe a mão. Aí foram recitadas estas palavras:
“SENHOR. –retumbando em nossos peitos harmoniosos cânticos de louvor em Ação de Graças ao Altíssimo que revelou a imperial visita dos Anjos Tutelares do Brasil às Províncias do Norte, entre as quais tocou por sorte ter a honra de ser agraciada a de Sergipe de que somos natos; e faltando-nos os necessários meios de podermos exprimir nosso pensamento do Solene Ato de Beneficência praticado por Vossas Majestades Imperiais, que solícitos em promover o bem à seus Vassalos, não hesitarão entregarem-se aos incômodos de uma viagem, felizmente ando hoje neste porto, valemo-nos da débil pena com que apenas assinamos nossos pobres nomes, para manifestar a Vossas Majestades Imperiais, quanto submissos somos aos degraus excelso Trono, e quanto desejo temos hoje mais que nunca de possuirmos bens de fortuna considerável que nos coadjuvassem a apresentar neste encontro memorável um aparatoso ato de memória digno de apreço em saudação e louvor de Vossa Majestade Imperial., da Soberana Imperatriz cândida Mãe do Brasil, dos Augustos Príncipes Preciosos Frutos desse Imperial Consorcio, que igualmente felicitamos, e por quem rogamos, a Vossas Majestades Imperiais, queiram aceitar o cordial afeto nascido dos nossos corações todos os brasileiros, todos amantes de seu Ínclito Monarca, e de toda Prole Imperial, a quem Deus guarde por séculos infinitos.
Senhor, se as opulentas Cidades, Vilas e Povoações apresentaram aquela grandeza própria em festejo das Magnânimas Pessoas de Vossas Majestades Imperiais, que vos pode Senhor, oferecer uma terra isolada, uma malfadada Freguesia despojada de seus antigos foros como o Socorro!
Ah! Senhor, os seus habitantes apresentam muito mais em adesão e respeito a Vossas Majestades Imperiais; sua humildade e seu próprio sangue, seus firmes corações que é mais que tudo, não tem mais que ofertarem, dão quanto podem: Aceitai Senhor, Aceitai.
Porto-grande do Socorro 15 de Janeiro de 1860. –“José Felipe de Araújo Pinto, por si seus parentes e amigos.”.
Às 11 ½ horas[3] embarcou S. M. na galeota, acompanhado do Sr. Engenheiro Pirro, que levava a planta do Pomonga e Japaratuba, e o projeto de canalização feito pelo Sr. Stevaux, de que acima damos noticia.
Na galeota percorreu S. M. todo o canal existente entre o Pomonga e Japaratuba, fazendo minuciosas reflexões a respeito da direção deste canal, e comparando-a com a do outro projetado. Já no Pomonga, no lugar denominado Angelim entrou S. M. no Pirajá, para onde se ou com a sua comitiva, dirigindo–se ao Aracajú, onde desembarcou as 6 horas da tarde.
Ao desembarcar foi recebido pela comissão do Aracaju, e por grande numero de Cidadãos que afluíam a saudar S. M. no meio de vivas.
Foi uma das viagens mais incômodas para o Imperador. Possa a visita imperial a estes lugares servir de incentivo aos representantes da Província para empenharem seus esforços a fim de darem todo o adiantamento a esta obra, fazendo convergir para ela os recursos da Província de Sergipe.[4]
Fonte imensa de riqueza, esta obra pagará no futuro com usura todas as despesas que por hora são de urgente necessidade para levar a efeito o novo plano de canalização entre o rio Pomonga e Japaratuba.
Bibliografia
SANTOS, Luiz Álvares do. Viagem Imperial a Província de Sergipe. 2ª Ed. Revisada e Anotada. (Introdução e notas de Luiz Antônio Barreto). Aracaju: Degrase, 2005. pp 163-206. (No Prelo)
Notas:
[1] Matemático, presidiu Sergipe de 7 de março de1859 a 15 de agosto de1860
[2] Um dos engenheiros contratados pela Província, fez a planta do Canal do Pomonga..
[3] 11:15h.
[4] Havia um plano para ligar os ritos sergipanos, do São Francisco ao Real, através de canais.